Pensamento Orientado a Processos
Para melhor enxergar a realidade, é preciso modelar, simular, emular e encenar a realidade, sendo que, desta forma, todos os riscos serão visualizados, e permitir a escolha do melhor caminho. Utilizando a abstração da realidade não seria possível simular, pois o produto da abstração não é a realidade, e sim uma visão da realidade.
Ao admitirmos que a realidade é mudança, não será possível o aprendizado do contexto de uma só vez, sendo que será necessário adotar um novo caminho que torne possível visualizar a diferença ou o estímulo que a resposta necessita. Este caminho consiste na representação tridimensional da realidade e na aplicação dos princípios da visão do mundo em processo.
Os princípios são utilizados para ajudar a estabelecer e reconhecer nosso próprio processo, seja o processo de criação de processo, o processo modelador que representa a realidade, ou o processo de simular um processo. São quinze princípios básicos que devem ser utilizados e seguidos para poder representar a realidade com mais fidelidade.
Os processos são percepções da realidade, sendo que seu enunciado expressa os caminhos e direções a serem tomadas durante o processo de representação da realidade. Os princípios garantem que a modelagem está condizente com a realidade, e também garantem que as alterações decorrentes da realidade sejam devidamente representadas.
AUTODEFESA
Estimular eventos que provocam a inexistência; busca estimular processos que possibilitem a redução da necessidade de defesa, ou seja, melhor prevenir a ocorrência de um problema do que tentar arrumar o problema ocorrido.
Uma modelagem de processos completa e com todos os princípios aplicados não está preocupada em encontrar caminhos mais rápidos e eficientes de resolver problemas que possam surgir. O caminho mais rápido para resolver um problema é a prevenção, é impedir que este problema ocorra, e que tempo e esforço sejam alocados para a solução do problema. A inclusão de várias visões, e a visualização dos duais auxiliam em muito a autodefesa.
CO-EVOLUÇÃO
A co-evolução é o princípio responsável pela melhoria contínua no processo. Nesse princípio estão embutidas as necessidades evolutivas dos processos, sendo que o processo utilizado para encontrar um determinado valor adicionado seja avaliado, sob a ótica da visão futura, busque um melhor caminho, um processo mais otimizado que o encontrado, para atingir o valor adicionado. O princípio da co-evolução também age sobre o valor adicionado, co-evoluindo o valor adicionado, promovendo a criação de um novo processo para a geração deste novo valor adicionado.
Promover que a diferença gere diferença, observando a não igualdade entre uma concretização do valor e o real. “Ao aprender com o erro, controla-se o risco”.
Com a observação e a comparação entre o concreto e o real, sempre com uma visão futura, buscar as possibilidades de evolução do modelo, ou seja, o constante aperfeiçoamento do modelo. Por exemplo, um indivíduo desenvolve uma pesquisa, como resultado gera um conhecimento adquirido pelo pesquisador. Em uma próxima pesquisa, este mesmo pesquisador pode modificar sua atividade de pesquisa, utilizando-se dos conhecimentos adquiridos anteriormente, ou seja, ocorreu a co-evolução do processo.
CONTEXTUALIZAÇÃO
A modelagem de processo somente representará a realidade se representar o seu contexto.
DUALIDADE
Não existe o errado sem o certo e nem vice-versa.
O princípio da dualidade verifica a não-criação do valor adicionado. Mesmo que a transição execute realmente o que as referências têm como regras, o valor adicionado esperado poderá não ser gerado, resultando num outro valor que não o esperado. A identificação e tratamento desse valor que não o esperado chama-se valor dual.
A dualidade está ligada à geração alternativa de valores adicionados, devido a diversos fatores, que não estão incluídos na falta de observação das referências. Ou seja, a transição foi executada sem erros, todos os insumos foram consumidos e todas as regras definidas nas referências foram seguidas à risca, mas mesmo assim, houve vários valores gerados.
Importante ressaltar que o dual do dual não é o próprio valor adicionado.
EXPONENCIAÇÃO
Um valor provoca a existência de outros, assim, devemos buscar esses outros valores. Isso gera uma adição exponencial onde cada valor resultante é base para uma nova exponenciação.
Todos os valores representados em uma modelagem de processos podem ser adquiridos através de outros processos, até o momento em que o processo de geração do valor representado na modelagem esteja fora do contexto da realidade modelada.
O princípio da exponenciação pode ser visualizado exponencialmente, pois as referências são exponenciações da operação, que é exponenciação da própria referência e da infra-estrutura, que também é exponenciação da operação.
Quando um processo é modelado, as infra-estruturas utilizadas e as referências seguidas também são modeláveis utilizando processos, gerando uma nova modelagem de processo, que também possui três eixos de representação, sendo que cada um dos eixos também pode ser exponenciado e representado através de outros processos.
FRACAMENTE ESTRUTURADO
A estrutura necessária para atingir o valor adicionado não deve ser o ponto principal da modelagem, a operação não é a chave para atingir o valor adicionado. O valor adicionado é o ponto importante dentro de uma modelagem, pois é ele que traz qualidade ao ser humano.
O valor adicionado muda com o tempo, e a estrutura não deve ser empecilho para que essas mudanças ocorram. Focar os esforços na estrutura para atingir o valor adicionado, é um grande erro que muitas organizações cometem, tornando-as menos competitivas, e mais demoradas no sentido de acompanhar novas tecnologias e tendências de mercado.
O valor adicionado pela organização, que é o insumo para o início da modelagem, não deve estar focado diretamente no produto que será gerado, mas sim no valor adicionado realmente que será gerado.
Quando o enfoque estiver sobre o valor-adicionado-produto, a organização, como um todo, estará incondicionalmente atrelada à produção única e exclusiva deste produto. Quando o enfoque for dado ao valor adicionado, à qualidade adicionada ao ser humano, a organização não estará atrelada ao produto, e sim ao valor adicionado. A estrutura envolvida para a criação de valor adicionado é mais maleável do que a estrutura de criação de produto.
A estrutura que eu uso para atingir o valor muda no tempo onde estrutura é característica de mudança e não coisa. O valor define as características requeridas para atingir o valor.
INCLUSÃO
Diz o ditado: “Duas cabeças pensam melhor do que uma”. Basicamente, o princípio da Inclusão promove este ditado a patamares nunca antes imaginados. Vários atores estão envolvidos em um processo, várias visões existem sobre a mesma realidade, várias opiniões são fornecidas sobre o mesmo contexto. O que vale para uma pessoa não tem o mesmo valor para outra, mesmo que seja em contextos idênticos.
O princípio da Inclusão promove que todas as visões de todos os participantes são importantes, e como os participantes são atores da realidade, estas visões devem estar presentes na modelagem, ou seja, não excluir ninguém, nem nenhuma idéia do resultado final da modelagem. Quanto mais visões estão representadas em um processo, mais robusto este processo se torna, mais rica será a inteligência embutida no processo. Isto devido às formas de compreensão que cada indivíduo tem da realidade, seja por diferença cultural, profissional, étnica, percepção, dentre outras.
Todas as visões dos atores do processo fazem parte da realidade que está sendo representada. Estas visões são inseparáveis da realidade modelada. Para o modelo ser o mais completo possível, todas as visões devem estar representadas.
“Enxergar” o valor de todos os outros, partindo da idéia de anexar a visão dos outros, mesmo não concordando com ela, permitindo assim, ter uma visão mais ampla.
Nunca se opor à visão de um outro indivíduo sobre um determinado processo e sim tentar entender as razões que levaram tal indivíduo a pensar assim, anexando esta visão à sua. Por exemplo, um indivíduo afirma que uma determinada atividade só pode ser exercida pelo Gerente de Compras, mas esta atividade é uma atividade de vendas. Ao invés de oposição a tal afirmação, deve-se analisar os motivos que levaram este.
INTEGRAÇÃO COM ENERGIA ZERO
O processo surge do contexto, sendo assim, quando definimos o processo, este representa a própria realidade. Quem define a integração é o contexto, portanto, para isto, não se gasta energia nenhuma. O valor é definido pelo contexto, caso contrário não estará adicionando valor ao ser humano.
A realidade está naturalmente integrada, todos os eventos que ocorrem na realidade não precisam de energia para ser integrados. Na modelagem de processo também não poderá existir gasto de energia para integrar o modelo. Se houver desperdício de energia para uma eventual integração entre processos e valores, significa que a modelagem não está representando a realidade, mas uma abstração incorreta do que está sendo representado.
Quando um modelo da realidade está finalizado, automaticamente todas as partes que o compõem devem estar integradas, assim como a realidade que está sendo representada.
MUDANÇA
A modelagem de processo visa mudanças de estados de valores adicionados, e não modelar coisas. Coisas não evoluem, não adicionam valor. A adição de valor não está na estática da coisa, e sim na mudança das coisas, gerando o valor adicionado.
Não existe coisa. O que existe é diferença de estado (mudança). O valor a ser adicionado é a própria mudança, a qual tem condições de co-evoluir. Se não pensar no valor, surgirão produtos (coisas) no processo, os quais não co-evoluem na realidade, sendo algo fixo.
PARALELISMO
Os processos ocorrem durante o desenrolar da realidade, ela não é seqüencial, transcorre no percurso do tempo. Os processos representam esta realidade dinâmica, aleatória e paralela, e como é representação da realidade, os processos também são paralelos.
O que deve ser fortemente considerado, na aplicação do princípio do Paralelismo, é a não-fixação de atores nos perfis de atores, ou seja, uma pessoa pode assumir vários perfis em um processo ou vários perfis em vários processos, ou até mesmo um perfil em vários processos. Sendo assim, provavelmente essa pessoa tomará parte de várias atividades nos processos, não realizando as atividades seqüencialmente, mas paralelamente, de acordo com a realidade representada.
O processo deve ser tratado de forma independente, não somente no eixo tradicional (operação), mas também no eixo da gestão e infra-estrutura.
As ligações entre os processos surgem do contexto e não de atribuições. Deve-se procurar o máximo de independência dos processos e atender ao maior número de possibilidades para que a organização possa ganhar em produtividade e qualidade, trabalhando com referências e estruturas.
PROTO-INTERAÇÃO
O princípio da Proto-Interação sugere que a possibilidade de errar não é algo hediondo, pois é através do erro que se aprende a fazer o correto. Sem o medo de errar, a imaginação pode correr livre, sem arreios nem receios. O modelo tem total liberdade de ação em cima dos erros, pois é possível simular a realidade antes de colocá-la em prática, ou seja, testar todas as possibilidades possíveis antes de definir qual delas será implantada. As possibilidades surgidas com a correta utilização do erro ao tentar torna o princípio da Proto-Interação extremamente amplo, pois o ato de errar e verificar o porquê do erro ocorrido, enriquece muito o modelo, permitindo o aperfeiçoamento do modelo e da realidade.
Quando os erros ocorrem são verificadas as incompletudes do problema e/ou da solução encontrada. Isso torna possível reduzir drasticamente o risco, por ser possível contorná-lo.
Caso o princípio da Proto-Interação não seja corretamente aplicado, não será possível a definição de várias opções para tratar com certos problemas, apesar de trabalhar com o problema. O princípio da Proto-Interação fornece várias opções para trabalhar com a realidade.
“Conversa” do concreto com a realidade para achar uma nova abstração.
A possibilidade de errar torna possível a correção de tais erros, garantindo a consistência do processo. Emulando esses erros buscamos incertezas que influenciam na elaboração do protótipo e sua constante interação permite-nos enxergar melhor possíveis problemas.
RECONHECIMENTO
“Eu me enxergar” nos outros. Diferente do Princípio da Inclusão, que introduz a visão de outra pessoa, o Princípio do Reconhecimento visa a sua projeção no outro, vendo e sentindo o mesmo que esta pessoa, podendo, assim, entender exatamente quais os motivos dela ter uma determinada visão.
O reconhecimento será eficazmente utilizado quando a pessoa vivenciar o que os outros sentem. O reconhecimento feito apenas pela lógica será um reconhecimento falseado, onde não houve a real compreensão nem a vivência para o reconhecimento. Sem a vivência não haverá o completo reconhecimento. Sem a vivência, o reconhecimento será apenas conceitual, e será falho. Sem realmente haver a vivência da outra experiência, o reconhecimento não será realmente completo.
Tanto o princípio do Reconhecimento quanto o princípio da Inclusão necessitam da vivência da experiência para poderem realmente ser utilizados, caso contrário, não serão realmente aplicados em toda a sua intensidade.
RECONSTRUÇÃO
Contextualizar processos utilizando-se do que foi construído.
A fragmentação de uma atividade macro gera outras atividades menores, as quais possuem suas próprias referências. Também não podem deixar de possuir uma ligação com a referência da atividade geral. Para que continuemos tendo a visão geral do processo, devemos fragmentar a realidade, mas sem deixar de enxergar as partes que interagem no contexto como um todo.
A realidade que está sendo representada através da modelagem de processos não pode ser simplificada, nem abstraída, porque perderia suas características, e a modelagem não atingiria o objetivo de representar a realidade como ela é, sem abstrações nem simplificações artificiais. O fato de dividir a realidade para melhor compreendê-la é válido, desde que não seja perdida a visão do todo, ou seja, dividir a realidade, sem fragmentá-la.
Na modelagem de processos não existe a idéia de fragmentar a realidade e modelá-la fragmentada, pois a realidade não é fragmentada, a realidade é formada de várias partes, mas todas as partes agindo em uníssono. Para atingir o valor adicionado, quando um processo for dividido em partes, deve manter essa mesma característica da realidade. O processo pode ser dividido em subprocessos, mas a visão e a relação com o processo maior não podem ser perdidas.
TEMPO ZERO
“Enxergar” o problema é viver a solução.
Frente a um determinado problema temos a necessidade de buscar a solução. Para encontrar esta solução gastamos um certo tempo. Quanto menor é este tempo, mais próximo da solução nos encontramos. Assim, se este tempo for igual a zero, estaremos vivendo a solução.
Com base no princípio do Tempo Zero temos, durante a formulação do problema, a própria solução do mesmo.
Enquanto o modelo da realidade estiver sendo construído, a compreensão do problema está sendo construída junto com a modelagem, pois modelar a realidade também é compreendê-la, entendê-la sob todos os aspectos, utilizando-se de todos os princípios necessários para a melhor representação. Quando a modelagem estiver terminada, com todos os princípios, a compreensão será completa e total sobre a realidade, ou seja, modelar é ter a compreensão da realidade, sem necessidade de investir tempo nem esforço adicional para a sua compreensão. E quando a compreensão da realidade e dos problemas que a compõem estão plenamente conhecidos, a solução do problema aparecerá naturalmente.
O princípio do Tempo Zero representa o conhecimento do problema e a descoberta da solução no momento em que termina a representação da realidade, a modelagem de processos, pois quando a modelagem estiver terminada, a realidade estará conhecida, com seu problema e solução.
UNI(CI)DADE
A realidade só existe e pode ser observada porque existe o ser humano, que é o principal fator da realidade, e da modelagem de processos, porque o valor adicionado agrega qualidade ao ser humano. Somos nós que devemos ser beneficiados com a adição de valor.
Só existe coerência na adição de valor quando o ser humano é beneficiado, e é essa premissa que deve ser considerada quando da modelagem de processo.
Todo valor deve adicionar algo ao ser humano, caso contrário torna-se desnecessário e se colocados no processo passa-se a tratar coisas e não valores. O ser humano é a fonte das máquinas contextuais e determina os valores a serem adicionados.
A Continuar…