O vinho que era meu

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] set./2003

Argollo Ferrão, A. M. de (2003). O vinho que era meu [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri2/tri2-11/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). O vinho que era meu. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Vendo, crendo, escrevendo, lendo lendas (pp. 16-17). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

O vinho que era meu
Havia vinho sobre a mesa,
Alguém veio, e bebeu...
Eu não vi, não fui eu.
Alguém que o degustou e sorveu,
Se serviu, ingeriu, tomou-me o cálice e sumiu,
Desapareceu.

E daí, o vinho que era meu,
O ato santo de um ateu,
O gole, o manto, aquele buquê e tanto,
Tonto Baco longe do Egeu,
Que estava ali e era meu...
Alguém veio e bebeu.

Devolva-me em beijos
Oh, musa confusa,
Sagrada puta,
Sonho meu.

Devolva-me aos prantos,
Em afagos afogados do vinho que era meu.
Devolva-me em gozo, em abraços,
Carícias plenas de ternura e sedução.
Devolva-me...
O vinho que era meu.

Traga-me uma taça, anda,
Não demora.
Dispa-se, esteja nua...
Devolva-me o vinho que você bebeu,
Que era tudo o que eu tinha
Daquilo tudo que você me deu.