Feia

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] out./2003

Argollo Ferrão, A. M. de (2003). Feia [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri2/tri2-27/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Feia. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Vendo, crendo, escrevendo, lendo lendas (pp. 32-33). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Feia
Quem poderia imaginá-la mulher,
Feia como você é,
Esquelética, raquítica, patética,
Dominando tanto a tantos

Tontos.

Sua voz de gralha
Esmigalha
Os tímpanos de quem quer que a ouça
– Prefiro lavar louça.

Você que pensa que pensa
Devia sentar-se e sentir-se
Menos tensa
– Desculpe-me, sem ofensa.

Ocorre que quem pensa, dispensa
Os apensos
E obsoletos pensamentos frágeis,
Estéreis amuletos provenientes de sua mediocridade.

Haja paciência para suportá-la:
Portas – (para sair),
Portáteis brinquedos – (para distrair),
Porta-malas herméticos – (para sumir com você).

E se, contudo, você insistir em ser
Isso que quer parecer,
Entenda que o melhor a fazer
É evaporar, desaparecer...

Em suma, sumir.
Para que assim o ar que eu respiro
Melhore, purifique-se,
E eu possa, finalmente, dormir.