Musa prestativa

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] nov./2003

Argollo Ferrão, A. M. de (2003). Musa prestativa [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri2/tri2-31/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Musa prestativa. In A. M. de Argollo Ferrão. Vendo, crendo, escrevendo, lendo lendas (pp. 36-38). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Musa prestativa
Hoje eu gozei gostoso...
Me esbaldei, me refestelei.
Mas... espere!

Devo me expressar com menos ênfase.
Afinal... trata-se de um texto respeitável,
Que não deve causar má impressão.

Um poeta... com tesão?!

Melhor dizer:
Hoje eu fiz amor gostoso...
Um amorzinho bom, despretensioso.

Eis que o papel em branco é uma armadilha.
O poeta quando escreve vê seu texto ganhar vida
E segue a trilha...

Não dá para dizer
Que o escrito jamais fora dito.
Afinal, não vão lhe ouvir, mas ler.

Um poeta... com tesão...

Trata-se de uma tentação
Sentir o olor que alucina, desatina,
Dá tesão! Querer dizer sim, mas escrever não.

Um poeta... com tesão.

O poeta clama, reclama, exclama
Mas ninguém escuta. Quer saber se foi pra cama,
Se afinal comeu aquela puta...

Não – salienta o poeta vilão.
Você fez amor! Gostoso!
Um amorzinho bom, despretensioso...

– Ora, vê se esquece o que eu disse, por favor.
O texto afinal é uma grande armadilha.

Não dá para esquecer, impedir que se leia
Como numa noite clara de lua cheia
Em que São Jorge não titubeia... e mata o dragão.

Um poeta... com tesão,

Fazendo amor com sua musa
Prestativa. Musa de aluguel
Que ele nunca viu, mas que todos verão...

Todo o verão: transa, poesia e paixão,
Muita energia, muita harmonia,
Muita saúde, e alguma inspiração.