Confraria das feiticeiras

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] dez./2003

Argollo Ferrão, A. M. de (2003). Confraria das feiticeiras [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri2/tri2-40/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Confraria das feiticeiras. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Vendo, crendo, escrevendo, lendo lendas (pp. 45-47). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Confraria das feiticeiras
Uma com olheiras
Bonita a vida inteira...
Mas agora não.

Uma feiticeira,
Bruxa daquelas que arderam na fogueira (da paixão...),
Faceira, matreira, espetáculo de mulher.
A roupa que usava colada no corpo calava a todos,
Segunda pele, tão macia quanto a que era dela de fato.
Quente, cheirosa, insinuante,
Uma mulher madura e bela,
De traços bem delineados e semblante marcante.
Corpo esguio, malhado, tudo em cima:
Acessórios bem escolhidos,
Provocantes na medida certa.
Os cabelos, os pêlos, as sandálias...
O suor que escorria discreta e sinuosamente
Pelas curvas do seu dorso
Atiçava a imaginação alimentando fantasias...

Aquela outra era mais tímida,
Novinha ainda! Parecia não conhecer a força que tinha.
Inteligente – gosto de mulher assim,
Pareceu-me séria, culta, honesta, quem
Gosta de festa.
Ela ficava na dela: quase oculta
Como que fazendo um relatório a ser entregue ao final da noite,
Daqueles que definem o rumo que as coisas deverão tomar.
Ela tirava conclusões baseadas em longas observações,
Estudava! Anotava cada detalhe, não se precipitava,
Esperava o momento certo
Pois bem sabia que, em caso contrário,
Toda a sua discrição, o charme do seu perfil,
Poderia escoar por água abaixo
E passaria a valer nada!

Havia uma outra ainda
Novinha também, cheia de encantos.
Já ficou com quem? Quantos?
Pô! Mas que contabilidade inútil...
Ela dançava, conversava, sorria,
Desfilava pela festa
Mas parecia possuir poucos atributos intelectuais,
Parecia concentrar seus atributos todos
Na beleza física:
Olhos verdes, cintura fina, corpo perfeito,
Mente (...) bem...
Se mente eu não sei, deve mentir.
Mente sã em corpo são: semente da paixão
Que brota somente na mente do amante.
Mulher fatal, bruxinha linda, interessante.

Mas a festa ainda não acabou...

São tantas que andam por aí
Dispersas, atentas, atraentes,
Atraídas para a luz, traídas, esquecidas
Do que exatamente as conduz...
E para onde.
Tantas e lindas, e santas
Cativas pervertidas, putas libertinas,
Tímidas, despudoradas, deusas da magia e sedução,
E mesmo aquelas que não são
O objeto da paixão,
O caminho da perdição
Dos pobres mortais, escravos da ilusão,
Mesmo aquelas (todas elas...)
Felizes estão
Nessa mística festa de confraternização.