Liso e ileso

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] out./2006

Argollo Ferrão, A. M. de (2006). Liso e ileso [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-34/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Liso e ileso. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 38-39). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Liso e ileso
Não me esperes porque não chegarei a tempo,
Não me convides para jantar,
Deixa-me em paz no meu canto,
Respeita o meu momento.
De fato meu sorriso esconde
A intenção de manter-me ausente
E só, e neutro,
Imperceptível aos teus sentidos,
Inalcançável à tua mente.
Nem penses em recrutar-me ou convencer-me,
Não vale a pena o sacrifício,
Eis que, a um passo estou do hospício,
Basta-me abrir os olhos,
Fixá-los em ti e expressar-me
Claramente.
Nego-me a ti a cada instante,
Sempre com delicadeza e muito charme,
Desvio-me, escorrego por entre os teus dedos,
Teus braços não conseguem me abraçar,
Me reter, me segurar,
Tuas garras não me agarram
Como se agarra a chance de uma vida!
Desiste, não me entregarei
Mesmo diante dos teus suplícios,
Não penses tratar-se apenas
De uma simples questão de tempo
O meu caminhar lento,
Contra o vento,
Em tua direção
Querendo colo,
A tua mão...
Estendida.
Lamento,
Isso não passa de mais uma doce ilusão,
A qual enxergo com clareza
E tento mostrar-te,
Tornando-a explícita,
Sempre com muita delicadeza
E um sorriso no rosto
Que esconde a minha intenção
De manter-me ausente,
E só, e neutro,
Invisível a ti que parece presa...
À idéia de me cativar
E depois servir minha cabeça à mesa.