Um sermão

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] out./2006

Argollo Ferrão, A. M. de (2006). Um sermão [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-36/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Um sermão. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 41-42). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Um sermão
Veja que eu nem lhe explicitei a exata circunstância
Em que me sinto pleno,
Absoluto e seguro – isento de ânsia,
Apto a conter-me em mim – sereno.

Nem lhe falei do que penso
Quando fecho os olhos e viajo
Ao som de um bom blues nesse imenso
Mundo – em que vivo sonhos e às vezes ajo,

A fim de realizar o que vislumbro
Cada vez que retorno às esferas superiores,
Pois hei de reencontrar meus eternos amores
E alimentar-me da luz que me ilumina na penumbra.

Quieto e calado – como só eu mesmo,
Como se eu tivesse saído de mim
Desatento e flanando – é sempre assim
Que você me recolhe do meu vagar a esmo.

Você mal sabe o quanto me foi bendita a sua assertiva.
Caiu-me como uma luva, um aviso,
Muito longe de um sermão, dado o seu sorriso,
Lembrou-me de esforçar-me para tornar minha vida mais produtiva.

Martela-me a mente noite e dia qual tortura,
A imagem de sua boca em flashes a soletrar
Palavras que, embora fortes, foram ditas com ternura,
Uma a uma, e todas elas repletas de um significado cósmico...

Hei de ouvir e introjetar.