O que aplaca a dor

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] out./2006

Argollo Ferrão, A. M. de (2006). O que aplaca a dor [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-41/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). O que aplaca a dor. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 46-47). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

O que aplaca a dor
Se você não tem nada a dizer,
Então cala a boca e me beija.
Veja que eu estou aqui com você,
À mercê... esperando o que quer que seja.

É isso: um pouco de atitude,
Um pouco mais de ação, por favor!
Assim vou me apaixonando amiúde,
Assim vou me aliviando da velha dor

De ser só sem estar só,
De me conformar com um gozo astral,
Em fluxos contínuos, incontidos, à volúpia,
Que nos remete ao estado mais puro – o pó.

Pois que do pó fomos feitos
E ao pó voltaremos
Com todo o louvor e respeito
A quem nos lembra o que somos e o que seremos.

E o beijo que quase aconteceu
Me levou a pensar que seria bom
Estar com você sem saber ao certo quem sou eu,
Deixar fluir no ritmo do mais contagiante som...

De rock, pop, de quem não fica a reboque
E resolve que a vida deve ser vivida
Na mesma cadência de quem quer que a toque,
Competência – o mais apropriado instrumento de quem vive.

La vie en rose a la Belle Epoque...

Pois aqui chegamos ao “X” da questão:
Onde é mesmo que estávamos? Onde é que vocês estão?
Não escuto mais as reclamações
Daqueles de quem freqüentemente reclamávamos.

É o fim do movimento que nos conduz
Ao caminho sublime da cruz
Que carregamos inconscientemente
Na certeza de nos justificarmos como gente.

Sinto-me em paz,
Feliz e tranqüilo quanto ao roteiro que enceno,
Sério e circunspecto, mas sobretudo sereno,
Certo de que tanto fez, como tanto faz...

Maduro, pleno e consciente
De que estamos absolutamente nus
Em busca do que é onipresente
Até que estejamos iluminados pela verdadeira luz

Permanentemente...