Sangue quente

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] dez./2006

Argollo Ferrão, A. M. de (2006). Sangue quente [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-54/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Sangue quente. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 57-58). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Sangue quente
Rasga-te um corte profundo...
É teu sangue que escorre entre os dedos,
E sentes as dores do mundo
Mas enfrentas as adversidades tranqüilo,
Sem medo
De tornar-te um mártir ao ferir-te,
Olhas de relance tua mão
De trabalhador que não pega em armas,
E consideras lindo o vermelho
Que intumesce
O teu mais nobre tecido,
Tuas rugas, tua face de homem comum,
Tua aura reluzente que te enobrece.
Miras ao redor e nada vês...
Agora estás sozinho – esquece!
Vê que tua vida se esvai
E em segundos consegues revê-la
Toda em flashes que remontam ao tempo
Em que sereno rogavas em prece
Pela paz entre os seres da Terra,
Pelo amor entre os seres astrais...
E aqui parece encerrarem-se
Teus temores – pois já anoitece,
É tarde e o teu corpo cansado
Já quase inanimado – desfalece.
(...)
Mas eis que de súbito acordas,
E levantas buscando forças celestes,
Pois sabes que bem o mereces.
Tratas de curar o que te fere,
Resgatas teu humor antropofágico
E segues teu caminho mágico
Enquanto teu sangue te aquece.