Meia-noite e meia

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] fev./2007

Argollo Ferrão, A. M. de (2007). Meia-noite e meia [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-59/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Meia-noite e meia. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (p. 63). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Meia-noite e meia
Eis que vou tornar a vê-la...
Atendendo a um seu chamado
Parto, desta vez, sem muita pressa,
Chego sem a angústia de querê-la.

E verifico que a lua está lá
No céu, que à noite clareia.
Serei eu ou seria ela – sereia –
Que com a luz do olhar faz da lua nova a cheia?

É assim que manifesto-me neutro
Como um dia me propôs a feiticeira
Envolta de mistérios em couro e jeans,
Desnuda de seus segredos à meia-noite e meia.

Após as doze mantém seu sapatinho,
Não foge do príncipe que a rodeia,
Apenas lhe diz docemente – bem baixinho,
Que seu fogo ela mesma é quem ateia.

Finalmente sorri e vai deitar-se,
Certa de que seu charme a noite incendeia,
Cumpre seu rito ao aprontar-se para dormir
Solenemente solitária, solidária a uma insólita ceia.

E como na noite em que eu a conheci
E me encantei e me vi – preso à sua teia,
Sem ação, ao lado dela eu fiquei só...
E era só meia-noite e meia.