Desmanche

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] mai./2007

Argollo Ferrão, A. M. de (2007). Desmanche [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-74/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Desmanche. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 78-79). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Desmanche
E a lança num movimento coordenado
Rasgou-me a carne e estripou-me as entranhas
Fazendo meu sangue jorrar
Em fluxo intenso, deixando-me atordoado,
Aturdido, virtualmente machucado.
Mas eu não havia percebido,
Não havia reparado...
Que o sangue esvaindo-se intensamente
Era o meu sangue
Inesperadamente derramado.
Covardemente atacado,
Fui gravemente ferido,
Porém, não me senti ameaçado,
Não me senti perdido.
Ao contrário,
Juntando forças que só eu sei aonde buscar,
Transformei aquele gesto,
Aquele golpe, aquele nefasto
Ataque multidimensional
Em mais uma fonte de alimento
Ao meu processo de subversão descomunal.
Transformei o ataque num ato
Que mal se percebe como tal.
E detonei os pobres energúmenos,
Frágeis “zé-manés”
Prenhes de maldade e hipocrisia
Em capachos simbólicos,
Úteis ao meu processo de reconstrução
Após o desmanche
Da guerra, do ódio que se encerra
Numa cápsula manufaturada por imbecis
Com base no sentimento de inveja,
Devido à falta de cultura e educação.
E então quem se cala berra,
Quem se preserva brilha
E quem com ferro fere, se ferra
No final – quando se emperra
O ato de corte da serra
Que destrói e aterroriza a terra.
Assim é que se enterra
Goela abaixo
O veneno de quem
Sempre lá embaixo
Age e erra.