Olhar humano

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] mai./2007

Argollo Ferrão, A. M. de (2007). Olhar humano [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-81/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Olhar humano. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 86-87). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Olhar humano
A metamorfose do olhar,
A mudança entre o ser e o vir-a-ser
Brilha mais quando se enxerga
Que o que já foi deverá permanecer

Na memória atemporal que nos faz
Reconhecer a perenidade.

O contexto que co-evolui sem parecer
Leva cegos funcionais a basearem suas paixões
Em meras abstrações da realidade,
Tidas como verdades que não admitem mutações.

Daí o caos passa a ser
Apenas mais um filme de ação

Que segue um roteiro lógico
A se desenrolar num cenário mágico
Ordenando regras explícitas
Dentro de um período ótimo...

Tudo predeterminado por quem
Resolve que a complexidade não tem
Tantos graus de liberdade e desordem...

E a ordem vence o caos
Pretensamente delineado
Para encaixar-se num sistema fechado.

Ai de quem questionar e decidir
Intuir, reclamar, sair...

Ai de quem quiser sonhar...
Ai de quem trouxer a dúvida,
A reticência...
A ambigüidade e a preguiça

Quando o que se deveria fazer
Seria mesmo espreguiçar-se...

Ai de quem atrever-se a rebelar-se,
E conceber hipóteses
Que tragam de volta o olhar
Profundo, profano, fecundo

Do mais caótico ser
Que insiste em consagrar-se.
Em suma, o olhar humano...
Que habita este mundo.