Reconhecimento

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] jun./2007

Argollo Ferrão, A. M. de (2007). Reconhecimento [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-90/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Reconhecimento. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 94-96). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Reconhecimento
Eis que de repente
Sou interpelado por quem menos espero
E recebo surpreso, ainda que reticente,
Palavras de apoio e agradecimento sincero.

Sinto que se pode restabelecer a comunicação
Interrompida, boicotada, corrompida
Por súditos mal treinados mas fiéis
A um ideal calhorda prenhe de maldição.

Pobres protótipos inacabados,
Projetos estéreis, inoperantes, modificados,
Pobres hordas de imbecis
Eficientes, todavia, ante as exigências dos mercados.

Respondem às demandas mais prementes,
Mostram-se entusiasmados, aptos a seguir,
Absolutamente capacitados
A vencer as mais temíveis batalhas,

Os desafios mais difíceis, os ritos mais cruéis
Numa competição autofágica,
Os mais horríveis e onipresentes
Pesadelos que já sonharam.

Ao final saem – quando saem –
Sem a mesma energia com que entraram.

Saem exaustos, pretensamente realizados,
Ou então calados, intimamente frustrados,
Mas sobretudo com o olhar altaneiro
De quem se sente cumpridor do dever.

Pobres engenheiros do nada,
Pobres mambembes executivos,
Pobres vermes, sementes modificadas,
Pobres clones malparidos...

Retrocedei desse caminho tortuoso,
Retomai vossos passos,
Vossos sonhos abandonados,
Vossos retumbantes fracassos...

Erguei vossas cabeças,
Marchai junto a um exército vitorioso

Formado por seres astrais
Que se incumbem de promover a paz,
Que não se entrega ao desânimo,
À preguiça, ou à perseguição contumaz.

Eis que num átimo verifico
Que o caminho é repleto de obstáculos,
Mas, na mesma proporção, é seguro
Quando o percorremos apoiados

Sobre incontestes sustentáculos,
Permeados pela veracidade
Dos princípios mais subversivos
Ao mesmo tempo que estáticos.

Liberdade, igualdade, fraternidade...
Salve estes sublimes oráculos!