Acordes dissonantes

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] jul./2008

Argollo Ferrão, A. M. de (2008). Acordes dissonantes [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-95/>.

ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008

Argollo, A. (2008). Acordes dissonantes. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 100-101). Campinas [SP/BRA]: O Autor.

Acordes dissonantes
Chega! Não quero mais tocar violão.
Não acerto um Mi com sétima,
Não faço a dobradinha  com Sol!
Não consigo emplacar uma modinha sequer,
Aliás, iniciei três versos com “não”!
Deu água! Eu não quero mais cantar,
Agora eu vou escrever,
Achei uma esferográfica azul
Daquelas que não falham!
Daquelas que me permitem
Fazer com que o texto corra solto
E, se o texto corre solto,
Eu, então, posso soltar o verbo.
E olha que eu solto mesmo.
Resolvo que vou escrever,
E xingar a “mãe do padre”,
Vou xingar a Bossa Nova,
Vou fazer valer a minha “pena”...
A esferográfica azul – que não falha.
E vou me sentir melhor
Assim...
Quase fazendo você rir de mim...
E se você riu
Foi porque não viu
Que eu quero apenas chamar atenção.
Vou continuar escrevendo
Sempre
E cantando quando
Sentir...
Que é pra acabar com esse negócio de você...
Longe de mim – tocar violão...
E se você disser que eu desafino, amor
Saiba que isso me causa uma profunda
Irritação. Não vou mais tocar violão.
Veja que eu nem bem cheguei
E já provoquei desavenças...
Por que foi que você gritou comigo?
Não mereço esse brutal castigo.
Façamos silêncio, ouçamos João Gilberto,
Ele é quem parece estar certo –
Como dois e dois são cinco...
E agora eu quero ir à escola...
Contar de um a dez, de dez a mil – cantar...
Parece que o tempo não passa,
Ou, se passa, fica tudo como está,
Assim... como está...
Ou então...
Como...
Eu...
Chega! Não vou mais tocar violão.
Pobre de quem
Não descobre o que tem de mais nobre,
Sua essência mais pura,
O sentido do bem –
Patrimônio intangível, aura clara,
Autenticidade e postura zen.
Pobre...
Pobre de quem...
Chega! Travou...
Não vou mais tocar violão.