Poema concebido em Campinas [SP/BRA] out./2007
Argollo Ferrão, A. M. de (2007). Ao rugido da leoa [web]. Disponível em <http://argollo.org/tri/tri3/tri3-97/>.
ISBN 978-85-908725-0-4 / Publicado em 2008
Argollo, A. (2008). Ao rugido da leoa. In A. M. de Argollo Ferrão (Ed.). Entre símbolos e a perfeição (pp. 103-104). Campinas [SP/BRA]: O Autor.
Ao rugido da leoa
Tá legal, Vamos começar a conversa. Você chegou tarde E eu estou com dor de cabeça, Então cale a boca E agradeça O fato d’eu achar normal Sua atitude dispersa E ignorá-la sem fazer alarde. O que mais você quer saber? Se eu ainda me interesso por você? Na cama, sim – quando estou a fim, Na mesa, às vezes – quando não como há meses, No banho, não – nem com muita água e sabão... Me esqueça. Assim eu deixo explícito Que o que temos entre nós é lícito, Posto que transparente E conformado em comum acordo. Mas você não se situa, Quer que eu seja só seu, E me diz que essa atitude não atenua O clima de envolvimento entre nós, E se mostra nua, E diz que não há bunda melhor que a sua, E assim me atordoa... Se mostra toda boa, Como uma puta de rua, E pensa que eu penso Só com a cabeça de baixo. Resolve rebolar, se esfregar, Fica pronta para dar... À toa, Pois se o ato ocorrer Nada muda em suma. Você continua na chuva, sozinha, Desprotegida rugindo Como ruge uma feroz leoa Que mesmo faminta, Após a caça, Curva-se à majestade E à imponência do seu macho Até que ele se sinta satisfeito E você possa cobrir o peito, E deixar sua condição de capacho, Como impõe o leão: Um tremendo esculacho Sem muito sermão.